Carne Seca e a funerária- Farol da Ilha.

Eu trabalhei como caixa no restaurante FAROL DA ILHA, na praia da bica, na Ilha do  Governador. O trabalho era à noite, pois o restaurante era uma boate, começávamos as 18:00H e entrávamos pela madrugada. As segundas feiras era a folga do pessoal, o movimento forte era nos fins de semana ( sexta e sábado ).

Uma quarta feira, com o movimento bem fraco, inclusive estava chovendo, passamos o tempo conversando, jogando conversa fora, fazíamos uma espécie de rodinha, com os garçons e esperávamos o tempo passar. O Carne Seca, um dos garçons, era alto, magro, e tinha um pavor de defunto, cemitério, caixão, era só falar que ele mudava de cor, procurava sair de perto para não escutar a conversa. Era um cara legal, boa praça, amigo e muito colado comigo, tinha uma amante em Botafogo e me colocou na fita da sobrinha da amante.

Naquela noite chuvosa, o restaurante era em frente para o mar, e como já disse, estava vazio, então eu tive uma ideia bem sacana, eram mais ou menos umas 22:00 H, peguei a lista telefônica, naquele tempo ainda existia, e procurei o telefone de uma funerária lá da Ilha, estava tudo muito monótono. Tinha um freguês da boate que o Carne Seca não gostava de atender, pois ele era esteticista de cadáver, o cara morria e ele  penteava, maquiava, fazia a barba, enfim, preparava o defunto para parecer mais bonito, o nome Frazão.

Então eu liguei para a funerária e o cara que me atendeu, com aquela voz de quem estava dormindo, me falou que o movimento estava ruim. Ao primeiro contato senti logo que o cara era legal, bom, expliquei a ele a situação, falei do Carne Seca, que eu queria fazer uma brincadeira com o meu colega. Ele topou na hora, então combinamos que eu iria chamar o garçom, para atender o telefonema. Assim foi feito.

Chamei o Carne Seca, ele olhou e me viu com o telefone na mão, veio correndo todo alegre pensando que  era a sua amante e o dialogo foi mais ou menos assim:

Carne Seca- alô, quem está falando?

Funerária: É o Sr: Carne Seca?

Carne Seca- Sou eu sim, mais quem está falando?

Funerária: É que eu estou querendo as suas medidas.

Carne Seca- Medidas! Pô eu não estou entendendo.

Carne Seca- Minhas medidas pra que? De onde está falando?  Quem é você?

Funerária- Aqui é da funerária, vou aprontar o teu caixão.

Carne Seca- Funerária! Vai pra puta que pariu, vai se foder.

Eu estava do lado e vi o Carne Seca ficar branco, parecia um fantasma, desligou o telefone e ia saindo, quando eu perguntei: -Que  houve  Carne Seca?

Carne Seca começou a falar, gaguejando e sem poder respirar normalmente.

Carne Seca- Porra era da funerária, o cara queria tirar minhas medidas, pois a minha mulher, aquela filha da puta, encomendou um caixão para mim, e disse pro cara que eu estava mal i ia morrer a qualquer momento., será que ela descobriu a  minha amante e vai fazer alguma sacanagem comigo.

O Carne Seca estava apavorado

Aí eu falei:- Carne Seca, será que você vai  morrer mesmo,bem aqui na boate?

Carne Seca:- Vai pro caralho!

No resto da noite, o Carne Seca, ficou murcho num canto e não atendeu ninguém, ficou com uma cara de choro e pediu para os outros garçons, atenderem as mesas dele. Então toda vez que chegava mais um carro para estacionar próximo ao restaurante o pessoal gritava:

-Carne Seca, chegou o carro da funerária. Olha o rabecão.

E o Carne Seca ficava branco e sempre levava um susto, e a encarnação durou muito tempo e o Carne Seca nunca se acostumou, toda vez, ficava com aquela cara de babaca e assustado com a situação.

Wilton-13:34H-21/02/2016.