A ESCRIVANINHA DO ONILDO.
O ano, 1985, um pouco para o final da primavera, em um dia
bem quente, abafado, como é de costume aqui no Rio de Janeiro.
Eu trabalhava no UNIBANCO, setor de recebimento, na rua do
Livramento na zona portuária . Éramos muitos funcionários neste setor e como
não podia deixar de ser, havia aqueles que se destacavam por algum motivo.
Trabalhávamos em dupla, mesas coladas, e o meu colega mais próximo, que ficava
ao meu lado, era o ONILDO, uma figura engraçada; muito alto, muito magro ( tipo
filé de borboleta ), e branco, parecia um copo de leite, e era introvertido. O
horário de trabalho era das 07:00 H ás 13:00H, então éramos dispensados e
saíamos para fazer qualquer outra atividade; fazer compras, passear ou na
maioria das vezes ir para casa. Um certo dia o Onildo me pediu para acompanha-lo até uma loja de móveis na
rua do Camerino, ali próximo à Sacadura Cabral. Prontamente me coloquei a sua
disposição e depois do expediente, fomos até a referida loja.
O sol, mesmo na primavera estava escaldante e o Onildo suava
e reclamava do calor, mais enfim chegamos. Ao entrarmos na loja, um dos
vendedores, um cidadão de cor negra, baixinho e tarracudo, com uma expressão
muito séria veio nos atender. Ficou até uma cena diferente, o baixinho ao lado
do altão, um cidadão de cor negra e um de cor branca, e eu mais afastado prestando à atenção aos dois. Onildo começou
a fazer perguntas sobre uma escrivaninha, que tipo de madeira foi usada para a confecção,
pois era o sonho dele ter uma escrivaninha em seu quarto. O vendedor tarracudo,
com o cabelo todo empastado de um creme não identificado, estava solícito e
respondia a todas as perguntas, então, Onildo perguntou o preço e a forma de
pagamento. Naquela época nós tínhamos talão de cheques e o negócio estava quase
concretizado. Onildo estava nervoso, o vendedor tarracudo já sorria pelo
fechamento da venda, então eu me aproximei, sempre usei um bigodão, e falei em
tom alto:-Amor, ao invés de você comprar esta escrivaninha, não seria melhor
comprar a nossa cama?
Silêncio fúnebre no ambiente, o vendedor olhou para mim com
os olhos arregalados, o sorriso ficou perdido no tempo anterior; Onildo começou
a ficar vermelho, a vermelhidão tomou conta de todo o corpo, ficou da cor da
bandeira do América, se lembram do Brasinha? Onildo como um louco saiu correndo
da loja, nos deixou, atravessou a Rua do Camerino sem olhar para os lados, e
parou a uma certa distância e começou a me xingar. O vendedor ficou atônito, sem
saber o que fazer, comecei a rir da situação e fui saindo. Só então o vendedor
entendeu a brincadeira, ou melhor, a sacanagem e riu também, mas era um riso
meio sem graça. Onildo ficou sem falar comigo por mais ou menos um mês e nunca,
mais passou pela porta da loja.
Hoje em dia ainda é complicado fazer este tipo de
brincadeira, imaginem em 1985. No dia seguinte toda a seção do UNIBANCO ficou
sabendo e a gozação foi muito grande. Até hoje quando encontro algum colega
daquele tempo, este fato é relembrado com muitos risos.
Wilton-18:00H-31/10/2015.